Escreveu Pacheco Pereira há uns dias no Abrupto um texto muito interessante sobre Jerónimo de Sousa, mostrando como a popularidade do líder do PCP se deve muito à cumplicidade que existe entre ele e o eleitorado comunista. A propósito dessa popularidade, refere: «Não é por acaso que as camisolas vermelhas dos seus apoiantes dizem um familiar “Jerónimo”, coisa que nunca aconteceria com “Álvaro”, com “Octávio”, com “Carlos”, com “António”.»
Concordo de uma forma geral com análise do post, mas em relação a esta questão do nome, tenho algumas dúvidas. Vejamos, Álvaro Cunhal era o “Cunhal”, Carlos Carvalhas, o “Carvalhas”. Mas já a Odete Santos é a “Odete”. Terá que ver com a familiaridade? Julgo que não. Julgo que terá mais que ver com a própria especificidade do nome. Normalmente, tratamos as pessoas famosas pelo apelido, porque este é de um modo geral muito menos comum que o nome próprio. Não faria sentido nenhum ir para um comício gritar pelo “Álvaro”, ou pelo “Carlos”, soando melhor gritar pelo “Cunhal” ou pelo “Carvalhas”. Quando, pelo contrário, o nome próprio adquire maior singularidade verifica-se o contrário, “Jerónimo” é muito mais invulgar que “Sousa”, tal como “Odete” é mais invulgar que “Santos”. E existem mais exemplos, mesmo fora do Partido Comunista. Veja-se o caso de Marcelo Rebelo de Sousa, que é conhecido pelo “Marcelo”. Já por exemplo Aníbal Cavaco Silva não aparece nem como “Aníbal” nem como “Silva”, mas sempre como “Cavaco”, o mais inusitado de todos os seus nomes.
Por tudo isso, não concordo de todo com Pacheco Pereira, mas já aceito que a palavra “Jerónimo” tenha sido aproveitada propagandisticamente para criar essa familiaridade, já que é mais fácil nos identificarmos com alguém que tratamos pelo nome próprio.

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